25 de maio de 2005

Fort Kandahar da Armies In Plastic

Marcelo Volcato

Nos últimos anos, uma empresa tomou de assalto o mercado internacional de soldadinhos, lançando dezenas e dezenas de sets de diversos períodos (Guerra Civil Americana, Napoleônico, I Guerra Mundial e Guerras Coloniais do século XIX). Essa empresa chama-se "ARMIES IN PLASTIC". 

Criada pelo casal Tony e Marilyn Ciccarello, proprietários de uma loja de figuras de metal junto a um dos portões da Academia Militar de West Point (a "Agulhas Negras" dos americanos), a Armies in Plastic vêm se notabilizando pela qualidade, variedade de poses e de uniformes corretos, e cores autênticas para o plástico. Um verdadeiro achado para quem ama os soldadinhos de plástico! 

Recentemente, em mais uma jogada ousada, a Armies in Plastic lançou dois maravilhosos playsets: O Fort Morroco, com a legião estrangeira e árabes, e o Fort Kandahar, das guerras entre os ingleses e afegãos no século XIX. Mas... Onde fica o Forte Kandahar? Kandahar é a segunda maior cidade do Afeganistão, perdendo apenas em importância para Cabul, a capital. Além disso, por sua história movimentada já passaram conquistadores de todos os tipos: os macedônios de Alexandre - o Grande, os mongóis de Gengis Khan, os Moguls de Tamerlão, etc... No século XIX foi a vez dos ingleses da Rainha Vitória lutarem lá, no século XX a União Soviética invadiu o Afeganistão, e no nosso século, os americanos estão lá, na mesma Kandahar, de onde expulsaram a guerrilha taliban... Nada mais adequado que recriar em plástico a cidadela que defendeu essa cidade durante milênios.

Mapa do Afeganistão mostrando Cabul e Kandahar

Kandahar, em uma propaganda alemã do século XIX

Falando especificamente do período vitoriano, os ingleses lutaram duas guerras contra o Afeganistão, mais de 50 expedições punitivas (invasões) ao território das tribos afegãs, e não menos de 20 batalhas em Kandahar e arredores! Bem melhor que outros fortes de brinquedo que existem por aí, onde nunca houve sequer uma batalha...

Batalha de Kandahar 1892 ( Repare o forte ao norte da cidade )

O Forte é grande, medindo 48,5 cm de lado, com uma altura máxima de 16,5 cm. Nas suas muralhas é possível colocar uns 80 soldadinhos sem problemas, isso sem falar no pátio interno, com espaços para acessórios e mais combatentes. As paredes interiores do forte são na verdade 11 fachadas que encaixam nas muralhas e podem ser colocadas de muitas maneiras diferentes, pois esse brinquedo é facilmente customizável. O portão pode ser fechado com uma fechadura muito bem bolada, segurança total para os soldadinhos lá dentro! Além disso, uma escada (semelhante a do antigo Forte Apache da Gulliver) e um mastro com bandeira compõem o brinquedo. O Fort Kandahar vêm também com 60 soldadinhos (20 ingleses em 17 poses, 20 hindus em 10 poses e 20 afegãos com 10 poses), mas tive sorte e o meu veio com 62 figuras! 

Outra coisa importante é que o Fort Kandahar tem um estilo oriental que o torna adequado para representar diversas fortalezas, desde a guerra de Tróia, até os nossos dias (quem viu o filme "Três Reis" com George Clooney sabe do que estou falando...). Um brinquedo sólido, muito fácil de montar e que vai proporcionar muitos e muitos anos de diversão para os seus proprietários. Além disso, ele custa 1/3 do que custam os playsets de concorrentes americanos... Uma pechincha! A caixa também é muito bonita e o brinquedo vem bem acondicionado dentro dela. 

Uma dica: Antigos soldadinhos de outras fábricas são perfeitamente adequados para se incorporarem a esse brinquedo. Sugiro os afegãos da Lone Star (fábrica inglesa dos anos 50, 60 e 70) que foram recast pela Toyway, e da cavalaria hindu da Reisler (fábrica dinamarquesa ainda em atividade) . Esses soldados de cavalaria são os famosíssimos Lanceiros de Bengala, a mais famosa tropa colonial inglesa.

Imagens do Fort Kandahar:





Ingleses, Afegãos e Hindus da Armies in Plastic:




Afegãos da Lone Star:


Os Lanceiros de Bengala da Reisler:

14 de abril de 2005

William Walker e a Arte de Criar um Playset

Marcelo Volcato

Os playsets são as obras-primas do mundo dos soldadinhos. Em uma só caixa (às vezes em duas), o proprietário de um playset encontra tudo o que precisa para se divertir: soldadinhos, cenário e acessórios! O mais clássico de todos é sem dúvida o Forte Apache, mas apenas a fábrica americana Marx Toys lançou mais de 200 playsets diferentes, e ainda tem 6 deles em produção, mais de meio século depois de lançar seu primeiro (uma versão do Álamo). Atualmente, existem 7 fabricantes que fazem e lançam seus playsets anualmente: Marx, CTS, Conte, TSC, Barzso, BMC e Gulliver (Sim! A Gulliver ainda lança o Forte Apache!). 

Com dezenas de fabricantes atuais relançando linhas antigas e produzindo coisas novas constantemente, apenas a imaginação nos impede de criar o playset dos nossos sonhos. Tenho quatro desses aqui em casa. Levei anos montando cada um deles. 

O primeiro chamo de "O Oásis de Tamanrasset". Reúne a legião estrangeira, atiradores senegaleses (tropa colonial francesa), árabes e tuareg. Têm também um oásis, com um forte, casas, tendas árabes e até mercadores do deserto!

Uma visão geral do playset "O Oásis de Tamanrasset"

O segundo é em homenagem aos filmes/livros "O Homem que Queria ser Rei" e "O Rei dos Khyber Rifles". É situado no Afeganistão século XIX e têm ingleses, afegãos, tropas hindus (cavalaria e infantaria) e até um sargento gurkha, além de montanhas e uma cidadela afegã, claro. 

O terceiro é dedicado a mais sangrenta batalha da II Guerra Mundial, o batalha de Stalingrado. Reúne tropas alemãs, seus aliados romenos e os seus inimigos russos, muitos russos. Ruínas, barricadas, tanques e canhões completam o cenário. 

O quarto playset, bem esse é o playset do William Walker... O que William Walker tem a ver com isso? Nada, ou quase nada. William Walker nasceu em 1824 muito antes da invenção do plástico e dos playsets. Sua vida foi tão interessante, contudo, que ele merece um playset. Vamos aos fatos: Nascido em Nashville no Tennessee, William Walker era baixinho, de aparência frágil e um homem de enorme cultura. Aos vinte anos já era médico, advogado e jornalista. Foi editor de vários jornais e um ardoroso combatente da escravidão e corrupção.

William Walker

Tudo isso mudou quando Walker, inspirado pelas vidas dos grandes gênios militares que ele conhecia dos livros, tornou-se um filibusteiro. E ele foi o maior dos filibusteiros. Um filibusteiro é uma pessoa que reúne um exército particular, ataca um país e o conquista! O que parece impensável nos dias de hoje não era raro em meados do século XIX. Entre 1852 e 1860 Walker comandou seis invasões a diversos países, proclamou a independência de um estado mexicano, conquistou a Nicarágua, foi eleito presidente da república desse país, lutou uma guerra contra quatro vizinhos centro-americanos (Honduras, Costa Rica, Guatemala e El Salvador), foi derrotado em batalha, mas ganhou a guerra graças a uma intervenção do vibrião colérico, que dizimou seus inimigos. Walker foi duas vezes capturado por tropas inglesas, e na segunda traído, tendo sido entregue a seus inimigos hondurenhos que o fuzilaram. Esse homem foi o americano mais famoso do século XIX no período anterior a Guerra Civil Americana, músicas foram compostas em sua homenagem (até mesmo uma ópera em 3 atos!), os jornais o mencionavam com uma freqüência assombrosa, e a sua passagem levava multidões para ouvi-lo nas estações de trem. Ele deixou um livro (o muito bem escrito "My War In Nicaragua") que foi best-seller na época e ainda hoje é reeditado, uns 150 anos após seu lançamento. Walker, auto-proclamado coronel e depois general, comandou seus soldados (denominados por ele de: "The immortals"; e conhecidos entre os nicaragüenses como "La Falange Americana") em muitas batalhas, ganhando algumas, perdendo outras. Viveu intensamente seu sonho de conquista. Apelidado pelos índios nicaraguenses de "Gray-Eyed Man of Destiny" (O Homem de Olhos Cinzentos do Destino), William Walker nunca será esquecido. Uma singela placa marca seu lugar de nascimento em Nashville, onde ele ainda é um herói popular, cujo nascimento é celebrado anualmente.

A placa que marca lugar de nascimento de William Walker em Nashville...

...e o mapa que marca os territórios invadidos pelo mesmo

Como fazer um playset de William Walker? Fácil! Segue uma lista de componentes básicos para fazer um bom playset:

William Walker ( Replicants CSA Cavalry )

Immortals ( Conte Alamo Texans, Timpo CSA Infantry )

Nicaragüenses ( Barzso Mexican Militia ):



Hondurenhos ( Timpo Civil War USA Infantry, Replicants USA Cavalry, BMC San Juan Hill Americans ):



Costa-Riquenhos ( Marx Civil War USA & CSA Infantries ):



Cenário ( Barzso Mexican Village ):



Acessórios ( CTS Cannon, BMC Barricades, BMC Alamo Accessories )

Estas peças estão disponíveis em muitos vendedores internacionais. 

Como a única limitação (além do custo) é a sua imaginação, uma consulta a esses sites pode realizar o velho sonho de comprar AQUELE brinquedo que você sempre quis! 

Boa sorte! 

28 de março de 2005

Legião Estrangeira Francesa Contra os Árabes

Marcelo Volcato

O século XX viu inúmeros mitos perpetuados em soldadinhos de plástico. Um dos mais freqüentes e charmosos foi sem dúvida o da Legião Estrangeira Francesa. Criada em 10 de Março de 1831, a Legião Estrangeira seguia uma antiga (século XII) tradição francesa de empregar mercenários em batalha. Presente em inúmeros conflitos, "La Legion" esteve nas mais importantes guerras do século XX, I e II Guerras Mundiais e Guerra do Vietnã. Naturalmente, ao pensarmos na Legião, lembramos dos Tuareg, um bando de árabes selvagens... Inimigos mortais dela. Ou será que não era bem assim? Lembrem-se que o mito se misturou à realidade em filmes imortais como Beau Geste, e inúmeros outros. 

Não surpreende, portanto, com tanta fama, que mais de 20 fabricantes tenham retratado esses valorosos soldados... A surpresa está na enorme confusão de uniformes escolhidos por eles. 

Vamos aos principais: 

Armies in Plastic

Este é um set recente, do ano 2000. Retrata a Legião em seu clássico uniforme da virada do século XX. Para enfrentá-la, como no filme Beau Geste, árabes Tuareg! Contudo, os Tuareg não são nem nunca foram árabes! Pode parecer surpreendente mas, de fato, eram inimigos mortais dos árabes! Muito mais mortais do que a Legião Estrangeira Francesa que NUNCA lutou contra os Tuareg! Na região do Saara, a Legião ocupava quartéis no norte da Argélia e no Marrocos. Locais esses, longe da área de atuação dos Tuareg, que viviam no maciço de Ahaggar e nos oásis de Tuat, no sul da Argélia. A zona dos Tuareg foi conquistada por cameleiros Chaamba (árabes), atiradores senegaleses (negros) e argelinos (árabes), comandados por oficiais franceses. Não por legionários, que eram em sua esmagadora maioria europeus que não se adaptavam muito bem às condições extremas do Ahaggar. 

Em tempo: Esse fabricante está prometendo para 2005 um maravilhoso forte para a Legião que vai custar um terço do que a concorrência cobra!

Legionários

Árabes

Fort Morocco


Britains Deetail

Lançados em 1974, essas figuras de legionários e árabes são algumas das mais belas disponíveis até hoje (atualmente fabricadas na Argentina pela DSG)! Os uniformes, todavia... Mais confusão! Os árabes são árabes mesmo, marroquinos que enfrentaram a Legião na guerra do Rif em 1925 (alguém viu o filme "Legionário", com Jean-Claude Van Dame?). O problema é que a Legião usa uniformes típicos da campanha do México, usados na batalha de Camerone, em 1863! Numa sacada inteligente, a DSG lançou essas figuras com a pintura dos uniformes dessa campanha.

Legionários

Árabes:





Charbens

Quase acertou nas roupas... Legionários em uniforme da virada do século XX, mas os árabes são beduínos, que não enfrentavam a Legião naqueles dias, pelo contrário, serviam aos franceses em tropas coloniais!

Legionários

Árabes

Cherilea

Um lindo, e pequeno set. Os árabes são marroquinos e beduínos (um de cada) de 1925. Os legionários usam uniformes de 1880...

Árabes acima e Legionários abaixo

Árabes

Conte

Esse fabricante retratou o Filme Beau Geste como mencionei em outro artigo. No filme, assim como no livro que o inspirou, os legionários lutam contra Tuareg... Igualzinho à Sétima Cavalaria que também nunca enfrentou os Apaches, a lenda é mais forte que a realidade nesse caso.

Legionários:



Árabes:



Crescent

Esse é legal! Pena que não existam recasts... Legionários e árabes da década de 1830, quando a Legião foi criada e a França invadiu, e conquistou, o litoral da Argélia.

Legionários:


Árabes:




Marx

Baseados numa série de TV dos anos 50, Captain Gallant (não sei se passou no Brasil), essas figuras seguem o figurino utilizado na TV e ninguém parece muito autêntico, nem os legionários, nem os árabes... 

Detalhe curioso: Como os atores que faziam a série usavam roupas brancas, que na TV P&B ficavam prateadas, a Marx, atendendo a inúmeros pedidos, lançou essas figuras de legionários também na cor prata! Hoje esses são muito mais raros que os azuis claros...



Fort Gallant:



Starlux

Um fabricante francês deveria saber fazer legionários estrangeiros FRANCESES, certo? Bem... Quando criou suas figuras, nos anos 50, essa fábrica decidiu fazê-los com os uniformes adotados por eles naquele momento, para lutar na Guerra do Vietnã (que para a França foi antes da mesma guerra lutada pelos EUA). Normal, não é mesmo? Só que como a França perdia aquela guerra para os Vietcongs, nada de fazer Vietcongs para as crianças francesas. Em seu lugar a Starlux produziu árabes marroquinos (1925) e membros da Legião Árabe da Síria, que lutaram contra a França, e os legionários, nos anos 30! Vai entender?

Legionários anos 30:



Árabes marroquinos ( 1925 )

Membros da Legião Árabe da Síria

Timpo

Esse supertradicional fabricante fez dois sets de legionários e árabes. O primeiro solid cast e o segundo swoppet. Nos dois, os legionários e árabes são da Guerra do Rif em 1925, no Marrocos. Um raro caso de acerto nesse confuso mundo da Legião Estrangeira Francesa em plástico...

Legionários solid cast

Swoppets:




Árabes solid cast